Carta de despedida gris

A chuva batia na janela..incessantemente..o dia tão cinza como o fundo do caixão..pelo menos como ela imaginaria que seria o fundo de um...tão deprimente...claustrofóbico..aqueles dias chuvosos a deprimiam...era como se a amordaçassem .....eles a deixavam num torpor total de idéias, de falta de ar e de magoas antigas ...”pra que lembrar’”era o refrão incessante .......era o que a vozinha na sua cabeça repetia, repetia, repetia...por que era sempre assim naqueles dias ..se não fosse a chuva a martelar ele talvez se animasse...não..não era simples assim...mas o que poder-se-ia fazer...aquela era a encruzilhada...e Deus sabia o tanto de coisas que rodavam, rodavam, rodavam na sua cabeça..quando que aquilo ia parar?
Se ao menos alguma coisa lhe apontasse a direção..que ilusão! Tantos medos...porder-se-ia dizer que tratava-se de uma patética criança...ah pelo amor de...não, não diria mais a palavra....argh!....por que simplesmente os temores não passavam a porta de sua vida como ela pensava que aconteceria um dia...mas que raios ela tinha coragem suficiente para isso..já faziam dias que estava chovendo e isso não a ajudava nem um pouco...pelo contrario..isso empurrava sua decisão cada vez mais para o fundo.....olhando pelo janela naquela manhã...para aquele dias gris ela pensara..”bem já chegou a hora!”..não ela não ia infligir mais dor aos outros; então com passos firmes ela se preparou..arrumou tudo, tomou o banho mais demorado, bem nem tanto o seu cabelo já havia começado a cair...seu lindo cabelo...fez a refeição mais deliciosa....e saiu...apesar de toda reclamação...era bom banhar-se na chuva......deixar os temores, os pecados ..tudo ser lavado, levado...não pensar....deixar a água escorrer..o fim tava chegando mesmo...com os mesmos passos firmes ela foi caminhando, caminhando...ate a velha ponte...a velha ponte de sua infância...que agora estava desativada..onde há anos atrás serpenteava um rio...o antiguíssimo rio que secara, como sua vida estava secando dia após dia; foi ate a beira ..um pé na frente do outro...um ultimo momento de respirar e depois o vácuo...a mente vazia..o nada...o impacto..a dor..a escuridão e o nada........ela se fora.

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