Impressões


Os dias passam e a caneta e o papel me chamam insistentemente, impossível resistir! E como algo sempre incomoda e vem à tona devo colocá-la em palavras. Sempre tive a impressão de que se eu olhasse através dos olhos de outra pessoa, fisicamente falando e não poeticamente, eu acabaria por enxergar diferente. As cores seriam diferentes, teriam tons mais fortes ou mais fracos; se ouvisse pelos seus ouvidos seriam notas diversas, mesmo que a diferença fosse relativamente insignificante, e assim por diante. Geneticamente falando realmente somos diferentes, mesmo que sejamos da mesma raça. E o que falar que impressões, opiniões, visões e maneira de agir?

Uns são mais humanos, sentimentais, detalhistas enquanto outros são mais frios, distantes. Sou de natureza mais sentimental embora muitos falem que consigo disfarçar bem; com o que não concordo...é como uma frase que ouvi ontem num filme que olhava: “É fácil conversar com garotas. Elas falam tudo, só é necessário aprender a ouvir!” Está ai uma descrição de como é falar comigo e me entender. Sempre achei extremamente maçante pessoas detalhistas, além de perigosas por não deixarem passar sequer mínimos detalhes. Ocorre que costumo ter uma boa memória, até mesmo uma boa memória fotográfica. Todas as pessoas que passam pela minha vida deixam uma marca, seja boa ou ruim, mas ficam marcadas de um jeito ou de outro. Pode ser aquele ‘coleguinha’ do jardim da infância até o rapaz que troca a garrafa de água na recepção. Costumo lembrar nomes, datas de aniversário e tom de voz, além do próprio rosto. Às vezes as características ficam marcadas em conjunto, às vezes elas estão separadas em cada individuo que conheci ao longo dos anos, mas as marcas ficam como se tudo tivesse acontecendo aqui nesse momento. Talvez se deva a uma dificuldade de encaixar o novo, uma tremenda recusa ao diferente, um apego ao passado..e uma forte ligação a momentos felizes, neste caso as pessoas que viveram ou estavam junto a mim nesses períodos acabam por ter uma poltrona de honra nas minhas memórias.

Neste momento percebo as diferenças das pessoas e sem querer as julgo insensíveis, mesmo que elas não tenham culpa por serem mais ‘desligadas’ (mesmo que aqui eu gostaria de ter dito ‘superficiais’), ora, mas como sempre estou sendo extremamente sentimental e exigente a um ponto que as pessoas não conseguem acompanhar, ou exigindo o que ninguém é obrigado a fazer, talvez. Mas jamais é um sentimento de atenção constante, veja bem. Sou daquelas que prefere o contato direto, a conversa franca, olho no olho, a conversa pessoal ao invés do diálogo eletrônico, cartas ao invés de mensagens telefônicas. Ai esta um amor intenso: cartas. Elas são tão mágicas, pessoais, sentimentais, atenciosas e únicas. Por que o ser humano ao evoluir perde características tão valiosas e importantes?

Pois bem, não devo esperar que lembrem de mim ou que de alguma forma eu tenha feito parte da vida de outros, por que depois de algum tempo simplesmente somos apagados da vida das pessoas, elas seguem e a gente fica, fica inexistente. Há dias atrás uma pessoa do meu passado, e sempre relembrada por mim como alguém alegre, divertida e agradável perguntou-me “quem mesmo eu era”. Tudo bem, nosso convívio se deu por cerca de três anos consecutivos, mas ocorreu há 13 anos. O que me deixa um pouco incomodada é por que eu lembro! Por que eu me lembro, mesmo? E mesmo que eu tente esquecer eu não consigo, sempre vou lembrar. Se algum dia alguém perguntar para mim “Você lembra de mim?” e se por acaso eu responder “Ah, desculpe, mas não lembro” deixo aqui registrado que estarei mentindo descaradamente!

Da mesma forma, outro dia atrás quando fazia compras no supermercado um ex colega de aula, da época da 5ª série, portanto, 17 anos atrás, olhou para mim e disse “Lembro de você! Estudei contigo quando éramos pequenos, e você não mudou nada, estão ai todos os traços que conheci...só não lembro do teu nome por que sofri um acidente que afetou certas áreas da minha memória, mas lembro te ti, sim!”. Ao que sorri e disse “Isso mesmo! Você está certo! Eu me lembro do seu nome e eu era a única menina da sala que realmente conversava com você.”

Qual a diferença entre uma pessoa totalmente sadia que me conheceu há 13 anos, da outra que sofreu um acidente e me conheceu há 17 anos? Eu não sei! Mas gostaria de saber. Talvez seja só eu que valorize demais o convívio que tenho ou tenha tido no passado com as pessoas. É decepcionante pensar que você estava lá no passado daquela pessoa, mas que tenha feito tão pouca diferença que mal vale uma simples e pequena lembrança. As relações entre as pessoas estão sempre mudando e é preciso ser mais fria em relação a elas, por que todos o são. Mesmo que eu sempre tenha achado melhor cultivar lembranças e pessoas, a vida segue e para cada qual só importa si mesmo e mais nada. Dizem que cada pessoa só tem mesmo pouquíssimos amigos, mas será mesmo que as pessoas dão a chance deste círculo aumentar? Eu acho que não! O melhor que tem é ser original, e isso eu sou! É como eu costumo dizer quando me dizem: “Ah, mas todo mundo é assim!”, e eu sempre irada respondo: “Meu nome é Marone e não ‘Todo o Mundo!’”

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