De peito aberto






Meu filhinho de seis anos me procurou todo chateado..para conversar, com o semblante fechado, curioso como sempre, mas com um coração imenso aberto:
-“Não gosto mais da Clara mãe!”
-“Mas o que aconteceu? Ontem você estava todo empolgado com ela!”
-“Ela estava muito chata hoje, não dividiu o lanche comigo e não conversou muito. Eu estava dando toda a minha atenção a ela..até dei uma florzinha..ela não ficou muito feliz parece...”
-“Hmmmm e você ao menos perguntou se estava acontecendo alguma coisa?”
Ele me olha com os olhos grandes de surpresa:
-“Não! Eu deveria? Acho que ela não gosta mais de mim! Odeio o amor mamãe! odeio tudo isso!”
-“Meu filho às vezes as pessoas não estão felizes com a vida por outros motivos que a gente desconhece...cabe a nós tentar entender e ajudar..sabia? Talvez a Clara estava precisando só de sua companhia nada de conversa, nem flores..só o silencio da sua companhia...ou então palavras sábias...”
Ele não fazia nada a não ser me olhar com admiração absorvendo tudo o que eu falava:
-“E você não odeia o amor; você simplesmente não entende e não vou dizer que quando você crescer entenderá, por que simplesmente a maioria dos adultos não entendem...Sabe por que nunca te incentivei a acreditar nos contos de fada?”
-“Por que eles são ‘faz de conta?”
-“Isso!” – sorrio e toco seu rosto.
-“Não se iluda!” dizemos juntos e sorrimos
-“O amor não é tudo o que a gente quer...o amor é como um cavalo selvagem e indomável...ninguém consegue subir em suas costas...ninguém o tem de verdade...não no amor de um menino com uma menina, ao menos, ele é feito para magoar e ferir, mas não se chateie, esta é a sua natureza...o encare com o peito aberto e sem medo, por que isso é viver, isso é ter coragem....ou você desistiria da brincadeira de pega – pega só por que caiu e ralou os joelhos? Ela deixaria de ser divertida só por que uma vez você caiu?”
Ele discorda com a cabeça.
_"A pessoa que a gente ama não é obrigada a fazer exatamente o que a gente quer para que possamos continuar a amá-las..a gente tem que aprender a amar o que nos desagrada no outro, os seus defeitos!" 
-“O amor, meu menininho, não é obrigado a ficar eternamente numa única morada, ele é como o passarinho que voa...e você sabe..não devemos prendê-lo por que senão ele morre...quem ama liberta...esta é sua natureza...liberte o amor e ele sempre voltará a sorrir pra você um dia..e ele tem várias faces e vários tempos..o problema é que as pessoas tem costume de rotulá-lo, prendê-lo, se irritam com ele...é como certos adultos que não entendem as crianças..seja mais forte que isso, seja paciente, não tenha medo e viva..corra riscos..isso é viver, não fique só se lamentando, experimente e perdoe a Clarinha por um dia de silêncio..ela merece.”
Ele sorri e vai me abraça:
-“Ta certo mamãe! Acho que você tem razão; é como aquelas fábulas que você me conta, né? Sempre tem uma moral...acho que captei sua mensagem...vou brincar.”




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